domingo, 16 de outubro de 2011

TROPA DE ELITE

Sucesso absoluto, aclamado pela crítica e público, o filme rendeu grandes lucros aos seus produtores e atores chegando mesmo a desbancar produções “hollywoodianas”.  Tendo arrecadado mais de quarenta milhões de reais desde sua estréia,  Tropa de Elite II não pode ser olvidado ou negligenciado pelo seu poder aglutinador de massas e pelo impacto que causa em torno de um tema: segurança pública.

 Pois é, dizem que é melhor até que o primeiro. Todavia, eu, como policial que não participo da "tropa de elite" da minha corporação cheguei a ficar triste porque a tônica do longa metragem é afirmar que quem unicamente presta na policia são os participantes do efetivo do Batalhão de Operações Especiais. Os outros 99,97% do efetivo é todo composto de malfazejos, ou como se disse no primeiro filme: é bandido ou se omite. Ora isto é uma pura inverdade.

É sabido que o caos que se instalou nalguns setores da Polícia Militar do Rio de Janeiro com a ascensão do tráfico de drogas e do jogo do bicho aliando-se a isso a baixíssimos salários - ainda hoje este Estado da Federação é um dos que pagam os piores salários aos seus policiais - e condutas desviantes por parte de policiais de mau caráter contribuíram para a fabricação de uma imagem da PM de um modo geral, a ponto de torná-la  altamente negativizada.

          A “invenção” da Polícia Militar como repressora e corrupta remonta ha décadas e foi construída pelos usos casuísticos que se fizeram das corporações sempre ligadas visceralmente às forças armadas. Criou-se com isso um imaginário na sociedade que a polícia é um mal. Mas, pergunta-se: para que serve a polícia? Principalmente a Militar, mais vista, com maiores efetivos e por conseguinte mais cobrada e menos reconhecida pelo poder público embora seja o "pau para toda obra" do Estado? Não é para servir ao próximo, auxiliando no que precise em termos de segurança e integração comunitária?

É evidente que há trabalhadores na segurança pública no próprio Rio de Janeiro que são pais de família, honestos e dedicados ao serviço. Estes não entram em grupos de extermínio ou milícias nem tampouco se corrompem e se vendem aos traficantes. Pelo contrário, o PM no Rio de Janeiro, trabalhador e honesto, que frise-se, é uma parte considerável, não trabalha na “tropa de elite”, assim como em outros Estados da Federação; de forma oposta, labuta de sol a sol e, muitas das vezes, não tem a devida proteção e reconhecimento. Como trabalhadores honestos, diante de salários aviltantes para a função que desempenham com toda a periculosidade, tentam complementar a renda com mais trabalho digno, mas perigoso de segurança privada através dos bicos.

Essa sim é a realidade da esmagadora maioria de trabalhadores no policiamento ostensivo do Rio de Janeiro e também dos outros Estados e não essa imagem que o filme tropa de elite tenta apregoar: policial bom é o policial do BOPE, mas o resto não. E só com as forças especiais se resolvem os problemas de segurança? claro que também não, porque  tem um efetivo limitado,  por conta da função específica que exercem, jamais sozinhas conseguiriam sequer resolver tais problemas que são de ordem complexa e exigem esforços concentrados e planejados.

Sempre quis escrever sobre isso porque gosto também do filme, do Capitão Nascimento “tocando o terror” nos morros cariocas em busca de justiça, todavia pouco se viu esta personagem fazer incursões na zona sul do Rio, na Barra da Tijuca ou em bairros nobres daquela cidade. Ele só atua nas favelas que concentra as pessoas de mais baixa renda, segregadas, favelas estas que foram legalizadas pelo próprio poder público e agora tentam "pacificar".

Não retiramos o mérito das forças especiais, pelo contrário, elas são necessárias a uma instituição pois são mais treinadas. São forças policiais concentradas e necessárias para determinadas missões, todavia, a verdadeira tropa de elite da PM do Rio e de outros Estados está nas ruas, no dia a dia com a comunidade, nas viaturas atendendo aos chamados que hoje são aos borbotões, socorrendo a quem precise, estendendo a mão amiga, nas praças e logradouros, nos cruzamentos, ordenando o transito nas rodovias, nas funções administrativas e de saúde, na custódia e escolta de pessoas presas, nos postos policiais isolados fazendo a segurança da comunidade

Ao final, entendemos que hoje, a tropa de elite da PM-RJ e também de todas as polícias brasileiras é formada por cada policial digno, honesto que sai para trabalhar em meio a toda essa violência urbana e não sabe se volta.
Por Mairton Dantas Castelo Branco – Major PM-RN

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