Vice Governador Robson Faria |
O vice-governador dissidente Robinson
Faria (PSD) dedicou boa parte da semana a Mossoró, onde visitou aliados, deu
entrevistas e indicou o caminho que deve tomar em 2014. Ele falou sobre as
articulações para o pleito vindouro, fez as habituais críticas à governadora e
tratou da possível chegada do PMDB para a oposição. Confira isso e muito mais
na entrevista abaixo.
O Mossoroense: Candidato em 2014 ao
governo, qual a sua maiormotivação para isso?
Robinson Faria: Tenho
respondido essa pergunta aonde eu chego. Em 2010, quase aconteceu de Robinson
Faria ser candidato a governador do Estado e eu não fui. Isso agora volta a
acontecer. Eu não escondo de ninguém o meu desejo de ser candidato a
governador. Isso não é pecado. É melhor que a hipocrisia e a desfaçatez. É uma
causa muito nobre. Mas isso não depende só de mim, do meu sonho, do meu
trabalho, do meu passado, do que eu já fiz e posso fazer. Dependerá também dos
sentimentos das ruas, das pessoas, de eu poder aglutinar apoiadores importantes
para essa vitória. A minha caminhada é para viabilizar esse projeto. Em 2014,
será o ano da decisão. O destino sempre coloca as coisas no momento certo.
Talvez 2010 não fosse o momento. A cada depoimento que eu escuto percebo que o
momento é 2014. Eu sou muito tranquilo porque as pessoas escolhem quem deve ser
candidato a governador e as mesmas pessoas escolhem quem será o governador.
OM: O que ocorreu em 2010 que o
senhor não repetiria neste novo momento de articulação?
Robson Faria: Se eu tivesse
o dom de adivinhar... O ser o humano não tem o dom de adivinhar por mais
instinto, "feeling"... só Deus poderia conceber esse milagre. Em
2010, eu era candidato a governador e me sentia um pouco injustiçado, poderia
até usar uma palavra mais suave, mas no momento me ocorre essa palavra, pelo
critério usado para a escolha do candidato do grupo que eu fazia parte. Não era
nada pessoal. Não teve nenhuma briga com a então governadora Wilma de Faria.
Achei que não houve um processo democrático. Tínhamos quatro nomes da base
aliada que estavam oferecendo seu nome para o Governo do Estado: eu, o
vice-governador Iberê, o hoje prefeito do Natal, Carlos Eduardo; e o deputado
João Maia, que não votou em Rosalba, mas aderiu ao governo. Na época eu fui à
casa de Wilma e sugeri a ela que convocasse nós quatro e lançasse a proposta
para todos nós publicamente que iria lançar uma pesquisa estadual e outra
nacional e aquele de nós que tivesse o melhor desempenho seria o candidato do
grupo. Ela não aceitou. Ela só queria apoiar o vice-governador Iberê Ferreira.
Eu disse que ela estava errada. Nada pessoal contra Iberê, de quem sou muito
amigo, assim como dela. Superamos esse momento no diálogo e na conversa. Ela
explicou as suas razões, e eu, as minhas. Isso fez eu apostar num grupo novo
que estava me convidando. Eu apostei num governo compartilhado que me foi
oferecido. Numa relação nova, fraterna, com espírito público, sem imperialismo,
sem mesquinharia, mas infelizmente isso não se concretizou e eu tive que dar o
grito de liberdade o mais rápido possível porque estava no limite da minha
dignidade. Nunca houve na história do Rio Grande do Norte um caso de um
vice-governador eleito romper em menos de um ano.
OM: Que diferenças o senhor vê entre
o seu rompimento com Rosalba
com o caso de Wilma em 2010?
Robson Faria: Com Wilma foi
totalmente diferente. Foi uma escolha dela para uma candidatura, mas o governo
dela nós convivemos oito anos e durante esse tempo sempre fui o presidente da
Assembleia, eleito por unanimidade e com o apoio dela. Ela nunca questionou a minha liderança. Ela apenas raciocinou que não poderia
deixar de apoiar o seu vice-governador Iberê Ferreira de Souza. Eu acho que foi
um equívoco que ela cometeu. Ela terminou sendo penalizada com isso, porque
dividiu-se o sistema. Eu levei meu grupo para a oposição. Perdeu Iberê, e ela
perdeu para o Senado. Se permanecesse todo esse grupo unido, talvez a história
hoje fosse diferente.
OM: Em 1974, seu pai, Osmundo Faria,
chegou muito perto de ser governador, mas uma articulação prejudicou-o na
última hora. Disputar o governo também seria uma forma de homenageá-lo?
Robson Faria: Também. Eu
tenho engasgado esse dia. Eu tinha 15 anos de idade. Meu pai me telefonou de
Brasília, falou com minha mãe também. Os dois já morreram. Meu pai morreu
precocemente, com 57 anos de idade. Ele me disse: "Meu filho não comente
com ninguém, mas eu fui convidado pelo presidente Geisel para ser o governador
do Rio Grande do Norte. Isso foi numa segunda-feira e ele mandou eu ficar em
Brasília porque sexta-feira de manhã ele vai anunciar os governadores de três
estados, entre eles o Rio Grande do Norte. Ele dormiu governador do Rio Grande
do Norte na segunda, na terça, na quarta e quinta-feira. Na madrugada de quinta
para sexta-feira, o ministro do Exército, general Dale Coutinho, que era amigo
do meu pai, defendeu o nome dele em seu grupo, que era muito ligado ao
presidente Geisel. Meu pai foi aceito, mas o ministro morreu horas antes da
solenidade, umas três ou quatro horas antes do anúncio de meu pai como
governador do Estado. Com a morte do general Dale Coutinho houve uma
reviravolta, e o senador Dinarte Mariz, que era contra o meu pai na época e
queria outro nome, conseguiu adiar o lançamento do nome do meu pai e aconteceu
o inesperado: Tarcísio Maia, que não fazia parte da lista sêxtupla aprovada
pelos convencionais da Arena, e meu pai foi o mais votado dessa lista. Quem
elegia essa lista: eram os prefeitos, os deputados e o presidente da Arena em
cada Estado. Era uma eleição democrática porque tinha a escolha de quem
militava no partido. O presidente de seis nomes foi o escolhido para ser
governador, e Tarcísio Maia, que nem foi escolhido e estava aposentado, morando
no Rio de Janeiro, terminou sendo o governador do Estado.
OM: Quanto ao processo de
articulação. Hoje existe algum correligionário da oposição que gostaria de
disputar o governo?
Robson Faria: Não. Pelo
contrário. Até gora, e digo com toda a honestidade que todos até agora
externaram a sua posição, inclusive Carlos Eduardo, assim como o prefeito de
Parnamirim e a própria Wilma, que esteve comigo em três reuniões e disse que
está fora de cogitação ela disputar o cargo de governador. Wilma quer disputar
o cargo de Legislativo, inclusive comenta-se que ela está em direção à Câmara
Federal. A deputada Fátima seria senadora, formando uma chapa comigo. Mas isso
é uma análise, uma construção. Não tem nada amarrado, definido. Ainda é preciso
esperar as pesquisas e as avaliações. Sei que são etapas que estão acontecendo
aos poucos.
OM: Falando em Câmara... Seu filho
Fábio Faria quer ser primeiro secretário da Casa. Como o senhor vê isso?
Robson Faria: Eu acho até uma
ousadia dele, mas sou um defensor da ousadia na vida. Na hora que ele bota para
fora esse sentimento de ousadia passo até a admirar. É o segundo cargo mais
importante da Câmara e isso é muito bom. Se vai ganhar, eu não sei, mas ele
botou a cara e está percorrendo os estados. Já houve uma votação interna do
PSD, que tem 53 deputados federais, e ele venceu. Agora é vencer no plenário,
ele vai ter uma projeção muito boa do seu mandato.
OM: Se o PMDB vier para a oposição e
querer indicar o candidato a governador, qual será a sua reação?
Robson Faria: Sempre
defendo o diálogo, as pesquisas, ouvir as lideranças. Do mesmo jeito que tenho
o direito de sonhar, meus companheiros também têm. Ninguém é dono de nada na
política. Tudo tem que ser conquistado. Se o PMDB vir, será muito bem-vindo.
OM: Na sua opinião o PMDB teve muita
paciência com a governadora?
Robson Farai: Acho que sim.
O PMDB teve paciência até demais.
OM: O senhor falou há pouco que é um
admirador da ousadia. É isso que, na sua opinião, falta ao governo Rosalba?
Robson Faria: Falta
ousadia, falta competência, falta projeto, falta planejamento, falta a verdade,
falta dignidade, falta gratidão, falta coerência, falta muita coisa... mas
mesmo assim o nosso Estado é tão forte que vai superar isso e dar a volta por
cima.
OM: Na sua opinião, a situação do
Estado pede austeridade ou investimento?
Robson Faria: Os dois.
Ambos caminham lado a lado. Choque de gestão e recuperar a capacidade de
investimento do Estado.
OM: A saúde do Rio Grande do Norte é
uma das piores do Brasil. Qual a saída que o senhor vê para esse problema?
Robson Faria: Primeiro
ponto. Sentar com humildade e conversar com o Sindicato, com a Associação dos
Médicos. Essa soberba, essa arrogância de não dialogar com os médicos quem está
perdendo é a população, que não está tendo saúde. O governo não pode ser
imperial. O governador é apenas um gestor que toma conta do estado, mas não é
dono do estado. Aquela cadeira é transitória. O povo coloca e tira. Se você
está no cargo de governador, você é obrigado a interagir com todos os
segmentos, ainda mais quando se trata das vidas humanas que é a classe médica.
O primeiro passo para a saúde é sentar para acabar com essa queda de braço que
só está prejudicando a população que precisa de médicos dando plantões para
salvar vidas e esse imperialismo com essa forma mesquinha de governar não leva
a esse diálogo. Segundo: tem que acabar com essa politicagem na saúde. Não
podemos pegar as direções dos hospitais regionais e transformar em moeda de
barganha política para ganhar eleição municipal, entregando a pessoas
incompetentes para dirigirem hospitais. Terceiro: temos que investir em
equipamentos para recuperar os hospitais regionais. Construir um novo hospital
em Natal. Fortaleza fez o seu, Pernambuco fez quatro hospitais novos em quatro
anos de Eduardo Campos. Aqui nem projeto tem de um hospital novo. A saúde é o
principal pilar de uma sociedade civil organizada. Temos que quebrar essa caixa-preta
da escala de plantão dos médicos, mas essa caixa-preta só se quebra dialogando
com eles. Precisamos de uma auditoria permanente da distribuição de
medicamentos. Faltam remédios nos hospitais, faltam remédios nos postos de
saúde, os serviços de alta complexidade não chegam para salvar vidas humanas.
Temos que quebrar esse paradigma. O nosso investimento hoje é simplório.
Estamos abaixo dos demais estados brasileiros. Nem o custeio está sendo
repassado. Por isso que a saúde está sucateada. Decretaram a calamidade por
vários meses e não aconteceu nada. Pelo contrário, está pior. Eu não tenho medo
de errar até porque conversei com muitos médicos e as cirurgias ortopédicas não
estão acontecendo no Rio Grande do Norte, está nascendo aí uma geração de sequelados.
A pessoa sofre um acidente de trânsito e fica semanas esperando o atendimento.
OM: Mês que vem começa o processo
eleitoral da Uern. A autonomia financeira estará na pauta. O senhor sendo
governador atenderá a essa antiga reivindicação?
Robson Faria: Sou o autor da
criação do Campus da Uern na cidade de Nova Cruz. Na época era o presidente da
Assembleia e fiz o projeto de lei que levou a Uern para Nova Cruz, onde
funciona muito bem. Aliás, quero fazer o registro que a Faculdade de Direito é
a que mais aprova para a OAB entre as universidades públicas. Isso me orgulha
bastante. Sou um admirador da Uern. Sou fã de carteirinha da Uern. Se um dia
chegar a governar o Estado darei plena autonomia à Uern e serei um grande
parceiro dela.
Fonte: Bruno Barreto
Editor de Política
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