O ministro da Previdência e senador licenciado pelo PMDB, Garibaldi
Alves Filho, é incisivo nas críticas ao governo Rosalba Ciarlini. Ele afirma
que a chefe do Executivo é devedora do povo potiguar, já que os problemas no
Estado "se agravaram" nos dois primeiros anos da atual administração.
"Não adianta ficar falando em herança maldita ou que a crise é
nacional", disse o ministro. Eleito senador - no mesmo pleito e ao lado da
governadora - com mais de um milhão de votos, Garibaldi Filho considera que
"está falando em nome de todos, não só do PMDB", quando analisa que
"o governo decepcionou nos dois primeiros anos". E admite: o
afastamento definitivo do PMDB do bloco de apoio político ao Governo "pode
ser antes do que muita gente pensa". O ministro Garibaldi Filho concedeu
entrevista à TV Tribuna.
Como o cidadão Garibaldi Filho
analisa o Governo Rosalba Ciarlini?
A minha opinião sobre o Governo
Rosalba não está somente no meu pensamento. Não sou só eu que estou pensando isso.
Falo o que muitos estão pensando, milhares de norte-rio-grandenses. Rosalba
precisa, realmente, acertar agora como nunca acertou antes. Ela foi boa
prefeita de Mossoró, fez administração inovadora, mas esses dois anos não
fizeram bem ao seu Governo perante a opinião pública. Os problemas se
agravaram, principalmente em determinadas áreas. Diria que tem condições ainda
de recuperar, tem fôlego para isso, agora é preciso andar mais rápido. Porque a
saúde está muito grave, a segurança também, e não adianta falar em herança
maldita, não adianta falar que o problema é nacional. O norte-rio-grandense vai
dizer que o problema é nacional, mas quer que ela (Rosalba) faça a parte dela
aqui. Fui para as ruas e apoiei a candidatura dela (Rosalba Ciarlini). Acho que
ela tem boa vontade, tem condições de acertar, mas está devendo essa
recuperação. Tem uma história de dizer que só tem uma bala na agulha. Pois, ela
só tem uma bala e tem que ser fulminante.
O senhor integrou o Conselho Político
da governadora. Foi teoria ou é prática o Conselho?
Você disse bem. O conselho ficou na
teoria. Não se viu nada da prática. Você já soube de algum ato do conselho,
alguma providência que tenha recomendado e que gerou consequência? Você não
sabe. Não sabe porque ela não existe, não chegou nem a existir. Houve duas
reuniões e a partir daí o conselho se desintegrou e desapareceu do cenário.
Como o senhor avalia a nomeação
do marido da governadora, Carlos Augusto Rosado, para secretário chefe da Casa
Civil?
Antes dele ser nomeado, muito antes,
eu fui abordado e disse que o melhor para Rosalba era nomear Carlos Augusto.
Porque ele quer participar, sempre quis fazer parte da administração de
Rosalba. Ele não iria se conformar em não participar. Então, o melhor é que ele
participe. Agora o que está se esperando é que a partir disso (da participação)
as coisas possam melhorar. Estávamos falando antes, da possibilidade de
melhora, muitos apostam que ele veio para melhorar. É preciso ele dar conta do
recado e tem credenciais para isso. Ele foi presidente da Assembleia, inclusive
eu era deputado. Tenho certeza de que ele (Carlos Augusto Rosado) pode
colaborar. O que há é a necessidade de definir bem os papéis, as atribuições e
as coisas ficarem mais claras.
O senhor disse que o Conselho Político
não passou da teoria. Ele faz falta a esse Governo?
Faz falta, sobretudo porque se você
tem um governo de coalizão o problema todo é você exercitar o governo de
coalizão. Na teoria é uma coisa, na prática é outra. As vezes enchem a boca
para dizer que o governo é de coalizão. Claro, é porque dele participa o PMDB.
Mas ele (o PMDB) tem uma pasta que não está a altura da participação que o PMDB
deveria ter. Há o PR e o DEM nesse Governo. O que vejo é que precisa uma maior
integração. O Governo é muito fechado, muito centralizador. E o principal
núcleo do Governo não atende as exigências de natureza política. O Governo não
é da coalizão prometida.
Qual a real situação do PMDB em
relação ao governo Rosalba?
Não posso falar sozinho pelo PMDB,
apesar de ter delegação muito honrosa que me foi dado pelos eleitores que me
tornaram o senador mais votado da história desse Estado. Realmente, o PMDB
poderá romper com o Governo mais cedo do que muitos pensam. Sempre que se fala
em rompimento político, há aqueles que são muito voltados para política e
gostam de dar conselho. Dizem que ninguém rompe com o Governo no começo,
ninguém rompe com o Governo no meio e depois não rompe no fim. Estamos no meio,
mas estamos esperando ainda por uma resposta (do Governo). Vamos ouvir
vereadores, vice-prefeitos, deputados, presidentes de diretórios. Todos haverão
de ser ouvidos para termos uma decisão. Dizem muito que o PMDB não democratiza
suas atitudes. É preciso que se ouça para ter uma decisão democrática. O PMDB,
para estar sintonizado com o povo do Rio Grande do Norte, espera que o Governo
melhore.
Muito se fala sobre 2014. Seduz a
possibilidade de voltar a disputar o Governo?
De maneira nenhuma. E não é porque
tenho más recordações do Governo. Tenho boas recordações. Mas, é porque sei que
ser governador não é fácil, principalmente em uma época dessa. A
representatividade da Assembleia existe, mas há concorrência muito grande da
imprensa, da rede social, dos canais abertos pela internet para que se
fiscalize o Governo. A minha conclusão é que eu gostaria de evitar essa
cobrança. Acho que na minha vida política já fui cobrado demais. Foi muito
honroso governar o Rio Grande do Norte. Mas essa honra deve ser repassada a
outros norte-riograndenses que tenham, como eu, a vocação de servir, que tenham
espírito público e disposição para fazer face ao novo contexto do que significa
governar.
Pela tendência do PMDB estar indo
para oposição, há proximidade com o vice-governador Robinson Faria?
O caso de Robinson foi de um
ineditismo total e absoluto porque conta-se nos dedos os meses que ele rompeu.
Quando digo que posso romper é diante da expectativa da matreirice política de
que partido nenhum rompe com governo no começo. O exemplo está no caso do
vice-governador que rompeu com a governadora antes de seis meses. O que
interessa é que o Governo possa evitar esse rompimento. Fui chamado para uma
conversa, muito franca, sincera, cordial, mas e depois disso? Você espera
consequência, espera que se diga e o que foi feito. Você precisa ser mais
ouvido. No caso, o PMDB e a mim que conversei com eles. Henrique Eduardo Alves
é o presidente do partido, mas ele me deu a delegação para ir conversar com
eles. Parece até que o mais paciente de nós dois é Henrique. Nesse episódio, é
Henrique que está com uma inesgotável reserva de paciência. Normalmente, eu sou
muito mais paciente do que ele (Henrique Eduardo Alves). Quem deve se pôr à
frente disso, é o presidente do partido. Se houver manifestação, será
partidária. E ele é o presidente do partido e quem deve coordenar a mobilização
para isso. Fui o primeiro a apoiar Rosalba. Não cheguei na hora que todos já
pensavam que ela ganharia, no momento que os foguetões já estavam preparados.
Eu cheguei antes para dizer que ela era favorita. Lamento muito que se tenha
que dizer que tenho que romper com um governo que ajudamos a construir,
principalmente, eu. Faço votos que as coisas melhorem. Vou aproveitar essa
coisa de final de ano. O Natal é um mês que nós devemos atentar para o espírito
natalino. Que o Governo renasça nesse Natal, as coisas melhorem. Isso é melhor
para o Rio Grande do Norte. Não sou precursor de enfrentamento e gostaria de
apelar para o espírito natalino de paz e concórdia e que nós tenhamos com o
Governo a reconstrução dessa história.
"Sei que a Previdência é um
desafio"
O senhor como filiado do PMDB o que
advoga para o partido em 2014? E mais: deputado federal Henrique Eduardo Alves,
deputado estadual Walter Alves, qual o destino dos dois em 2014?
Eu me preocupo com os destinos do
partido. Essa candidatura de Hermano Morais (a prefeito) apesar do que ela pode
ter provocado em relação à nossa família, foi muito boa para dizer uma coisa ao
Rio Grande do Norte: que nós não fazemos política familiarmente. As pessoas
diziam que Alves só pensa Alves, Alves só lança Alves. Hermano Morais não
era o Alves, o Alves era Carlos Eduardo e nós tivemos que ficar ao lado de
Hermano. Claro, combatendo a candidatura de um Alves. Não se trata de um
interesse familiar. Nossos interesse vai mais além. Eu me preocupo com
Henrique, vou me preocupar menos agora porque, finalmente, vai se fazer justiça
a ele, que já deveria ter sido presidente da Câmara dos Deputados. Ele que está
no décimo primeiro mandato. Posso imaginar a alegria que ele vai sentir
quando ele for empossado. Walter eu também fico muito feliz. Foi eleito
Parlamentar do Ano pelo Comitê de Imprensa da Assembleia. O que eu puder fazer
vou fazer, não porque ele é meu filho, mas porque ele tem vocação e quem tem vocação
merece crescer politicamente. Para Walter, como pai, como aquele que está ao
lado dele e vejo a vocação, quero que ele possa crescer na política. Não vou
dizer que ele deve ser isso ou aquilo, quem vai dizer é o povo. De nada
adiantar instrumentalizar, eu como pai querer que ele seja candidato a deputado
federal. Aliás, não estou lançando ele deputado federal. Estou desejando o
melhor para ele. Agora quem vai eleger é o povo. Eu quero entregar os destinos
dele (Walter Alves) ao povo. Se o povo acha que ele deve continuar uma
trajetória, como o povo me fez, que faça com ele, que faça com Henrique.
Quando o senhor assumiu o Ministério
da Previdência disse que era um "abacaxi". Depois de dois anos,
conseguiu descascar o abacaxi?
A Previdência continua sendo um
abacaxi porque é no sentido do desafio. E os desafios da Previdência são vários
e, claro, na verdade, eu apenas lhe diria que pensei até em coisa pior, em
abacaxi pior. Do meu ponto de vista, o pior já passou, que são aqueles
primeiros dias, primeiros meses, mas agora já estou familiarizado e sei que a
Previdência Social no Brasil e até no mundo inteiro é um grande desafio. Não
tenho dúvidas de que essa crise pela qual passa a Europa, o Velho Mundo, tem um
componente que é o da Previdência Social. Lá benefícios estão sendo cortados
tal é a gravidade da situação.
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