Na voz e no dedilhar da sanfona de Seu
Luiz, o Nordeste foi elevado a uma nova condição, rompendo barreiras e
transformando paradigmas, abrindo caminho para a música regional. Gonzaga deu
ao baião uma nova roupagem, implementando elementos como a zabumba e o
triângulo, junto com a sanfona, em uma mistura que marcaria para sempre o
gênero forró. Sua vida é repleta de particularidades, nuances que transformaram
o solista, que explodiu como cantor, no artista mais popular do país, alçando-o
a categoria de "Rei".
Na próxima quinta-feira, 13, dia de
Santa Luzia, o país direciona seu olhar ao centenário de nascimento de Luiz
Gonzaga. Ao longo do ano, diversas homenagens foram promovidas para o Rei do
Baião, mas é no dia 13 que as comemorações atingem o seu ápice.
Nascido em 1912, numa sexta-feira, na
Fazenda Caiçara, em Exu, Pernambuco, Luiz Gonzaga do Nascimento foi o segundo
dos nove filhos do casal Januário José dos Santos, o Mestre Januário,
sanfoneiro de oito baixos afamado na região, e Ana Batista de Jesus, conhecida
por Santana.
Aos treze anos, o futuro "Rei do
Baião" compra sua primeira sanfona, na cidade de Ouricuri, dando início
ali a uma trajetória de sucesso. "A influência deste homem para o
reconhecimento de um outro Brasil, a região Nordeste, foi de uma forma sem par.
A partir de suas músicas e
interpretações, o Brasil descobriu seu celeiro cultural. 'Luiz Gonzaga Não
Morreu' é uma frase que expressa a minha opinião, de fã, pesquisador e,
sobretudo, reconhecimento por tudo o que representa para a nossa Música Popular
Brasileira o 'Rei do Baião', grande influenciador da geração dos anos 70, como
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Elba Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo,
Fagner e tantos outros das gerações seguintes.
A partir do momento em que uma de suas
músicas está sendo executada e ouvida, em qualquer lugar do mundo, também
estará viva a pessoa e à memória dele. Usando as palavras do grande Rui Barbosa:
A morte não extingue, transforma; não aniquila, renova; não divorcia,
aproxima", afirma o historiador Kydelmir Dantas.
Gonzaga teve ao seu lado parceiros
fundamentais para alavancar a
carreira. Entre eles nomes como
Humberto Teixeira, José Marcolino, Onildo Almeida, João Silva, pessoas que o
ajudaram a difundir o xaxado, xote, aboio, xamego e toada. "O Rei do Baião
cantou também valsas, frevos, maracatus, marchinhas de carnaval, choros e mais
uns 30 gêneros musicais", complementa Kydelmir Dantas.
O compositor do hino dos nordestinos
"Asa Branca" também foi um namorador nato. Pelo menos quatro grandes amores
preencheram seu coração ao longo da vida: Nazarena, Odaléia, Helena e Edelzuíta,
sendo esta última a parceira do sanfoneiro quando ele já tinha chegado aos 63
anos. Gonzaga também foi militar, cabo do Exército e político, chegando a
anunciar que pretendia se candidatar a deputado pelo MDB.
Mas foi na música que o velho
"Lua", como também é conhecido, se encontrou, tornando-se referência
quando se fala, e ouve, o autêntico forró. "O ritmo implantado por
Gonzagão permanece, o que mudou, ou seja, as estilizações, praticamente são
apenas em cima de um ritmo só, o xote.
Aí criou-se o 'forruim'. Mas há quem
goste. Com relação as modalidades onde
se diz 'universitário', 'de raiz', são só em torno do mercado fonográfico.
No final, a essência é bebida na fonte
Gonzaguiana, e só. Tudo isto pode ser encontrado no livro "O Fole Roncou!
Uma História do Forró", de Carlos Marcelo & Rosualdo Rodrigues",
conta Kydelmir Dantas, cujo interesse por Luiz Gonzaga teve início nos anos 60,
na Paraíba, através das ondas sonoras da Rádio Brejuí, de Currais Novos."Aquelas
melodias, a voz grave, o toque da sanfona. Lembro que a música Olha pro céu sempre
me fazia levantar a vista, e vislumbrar a noite, os balões, os fogos de
artifício, num enlevo de criança, numa saudade de adulto, como ainda hoje é recorrente. Esta é que é a
história", conclui.
Fonte: Jornal O
Mossoroense
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