Falta de perspectiva profissional contribui para
reduzir o efetivo do aparato de segurança do estado; número de pedidos de baixa
na polícia militar cresceu mais de 700% entre 2001 e 2012; só este ano 40 pms
largaram a farda.
É cada vez maior a quantidade de
policiais e bombeiros militares que têm pedido para deixar as corporações onde
atuam. Na Polícia Militar, o número de pedidos de baixa cresceu mais de 700%
entre 2001 e 2012. A realidade permanece crescente nesse ano, quando a
quantidade de pedidos de licenciamento em quatro meses já se aproxima do número
total de todo o ano passado. Em 2013, 40 policiais deixaram a Corporação a
pedido.
A razão apresentada para a curva
ascendente tem sido similar em diversos casos: a falta de perspectiva de
ascensão profissional. Desmotivados e sem enxergar a possibilidade de construir
carreiras, policiais e bombeiros têm optado por ingressar em outras profissões.
A maioria dos “desistentes” é formado pela base das instituições: o soldado. Na
prática, é a graduação que mais tem sentido a falta de apoio do poder público.
Levantamento realizado pela
Associação dos Subtenentes e Sargentos da PM/RN a partir de boletins da
Corporação, obtido pelo NOVO JORNAL, comprovam a realidade. Em 2001, por
exemplo, foram cinco pedidos de afastamento. Os números são crescentes com
picos em 2012 e 2013. Ao longo dos últimos dez anos, a quantidade variou entre
10 e 38 pedidos anuais. Nos últimos 12 anos, foram 305 saídas de policiais
militares.
As associações de classe demonstram
surpresa com os números de 2013, que em quatro meses se aproxima da quantidade
total do ano passado. Esse ano foram 40 pedidos, enquanto em 2012 foram 42. Na
visão das autoridades da segurança pública, as estatísticas trazem duas preocupações:
a sobrecarga de trabalho para os policiais e bombeiros que continuam
trabalhando e o consequente prejuízo na prestação de serviço à sociedade.
“Esse é um fenômeno que está indo na
contramão de qualquer outra categoria do serviço público. Pessoas que se
dedicaram para passar no concurso acabam decepcionadas quanto entram na PM”,
avaliou o presidente da Associação de Cabos e Soldados da PM, soldado Roberto
Campos. “Isso é uma prova de que não existe estímulo ao servidor. Eles estão
pedindo para sair para fazer outros concursos ou seguir como profissionais
liberais”, acrescentou.
O presidente da Associação de
Subtenentes e Sargentos, sargento Eliabe Marques, comenta as estatísticas
levantadas pela instituição. “São policiais que perderam a motivação para estar
na polícia e pedem para sair. Não era uma situação de rotina. Ser policial só
vem realmente quem tem vocação e gosta. Quando ele entra tem essa situação toda
tem as decepções. Em 2001, foram cinco policiais. A partir daí, começa a aumentar,
de modo que em 2013, só nos primeiros quatro meses, já são 40”, analisou.
Para ele, a segurança é diretamente
atingida: “A tendência é que esse número aumente. A segurança pública tende a
piorar. A segurança está sendo diretamente afetada. Essa situação não é causada
pelo atual governo. Isso vem de anos de negligência, de omissão de sucessivos
governos. Hoje, quem está no Governo é Rosalba e ela que vai ter que resolver o
problema”.
Soldado trocou PM pela Marinha
Wilians Raniere da Silva Rocha, 34
anos, ingressou na Polícia Militar do RN no ano de 2004. Cinco anos depois,
procurou a Diretoria de Pessoal para solicitar o desligamento da Corporação.
Motivo: falta de perspectiva de crescimento na profissão.
Rocha entrou na PM como soldado e era
lotado no Esquadrão de Polícia Montada, a cavalaria. Ao conversar com colegas,
percebia o desestímulo dos companheiros. Sem enxergar motivação, decidiu
devolver a farda cinza e seguir por outros caminhos. Em 2009, pouco tempo
depois de deixar a PM, foi aprovado no concurso da Marinha e hoje é oficial da
instituição.
Ao NOVO JORNAL relatou os problemas
na PM e a nova realidade que vivencia na Marinha. “Entrei com pensamento de
crescer, mas verifiquei que não é bem assim. Encontrei colegas de trabalho que
estão lá há muito tempo e não conseguiram promoções”, disse. “Então, decidi
procurar outro caminho. Não me acomodar”, completou.
Na Marinha, se diz estimulado em
razão da possibilidade de ascensão. “Aqui, as promoções acontecem mesmo e não é
porque sou oficial. É bastante gratificante isso”, relatou. Apesar da
satisfação da nova profissão, Rocha ressaltou a vontade que possuía de ter
permanecido na Corporação desde que houvesse condições.
“Na Marinha, viajo bastante. Se tivesse
alguma chance de subir na carreira na PM, teria ficado mesmo ganhando menos”,
ponderou.
Licenciamentos a pedidos de policiais
militares
2001- 5
2002 - 7
2003 - 12
2004 - 4
2005 - 11
2006 - 33
2007 - 38
2008 - 38
2009 - 28
2010 - 23
2011 - 24
2012 - 42
2013 - 40 (até o início de maio)
Do Novo Jornal
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