O ministro Marco Aurélio é o relator
da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4983) em que a Procuradoria Geral
da República (PGR) pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenda a
eficácia de lei estadual que regulamenta a prática da vaquejada no Ceará.
A ação foi ajuizada pela PGR para
contestar a integralidade da Lei estadual nº 15.299/2013, que estabelece as
regras para a realização da vaquejada como atividade desportiva e cultural.
A norma fixa os critérios para a competição e obriga os organizadores a
adotarem medidas de segurança para os vaqueiros, público e animais.
A vaquejada consiste em uma
competição onde uma dupla de vaqueiros, montados em cavalos distintos, busca
derrubar um touro, puxando-o pelo rabo, de forma a dominar o animal em uma área
demarcada. A prática da vaquejada é considerada atividade esportiva e cultural
fundada no Nordeste brasileiro e remonta, segundo a ação da PGR, “a uma
necessidade antiga de fazendeiros daquela região para reunir o gado”, quando as
fazendas não eram cercadas e era preciso reunir os animais. Entretanto,
argumenta a PGR, “a prática inicialmente associada a atividades necessárias à
produção agrícola passou a ser explorada como esporte e vendida como
espetáculo, movimentando hoje cerca de R$ 14 milhões por ano”.
Segundo a ação, com a
profissionalização da vaquejada, algumas práticas passaram a ser adotadas, como
o enclausuramento dos animais antes de serem lançados à pista, momento em
que são açoitados e instigados para que entrem agitados na arena quando da
abertura do portão. “Diferentemente do que ocorria no campo, os objetivos do
esporte e do espetáculo hoje ditam a maneira como se trata o animal”, argumenta
a PGR. Tais práticas, prossegue a PGR, acarretam danos e constituem crueldade
contra os animais, o que é vedado pelo artigo 225, parágrafo 1º, inciso VII, da
Constituição Federal.
A PGR lembra ainda que, em situações
específicas em que houve embate entre as manifestações culturais e o meio
ambiente, como em julgamentos de grande repercussão – briga de galo no Rio de
Janeiro (ADI 1856) e farra do boi em Santa Catarina (RE 153531) –, a Corte
entendeu que “o conflito de normas constitucionais se resolve em favor da
preservação do meio ambiente quando as práticas e os esportes condenam animais
a situações degradantes”. Assim, a PGR pede a concessão de liminar para
suspender a prática da vaquejada no estado do Ceará, “diante do risco de que
animais sejam submetidos a tratamento cruel, o que é em si irreversível”. No
mérito, requer que a lei estadual seja declarada inconstitucional.
Do STF
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